terça-feira, 3 de novembro de 2015

Alhos e bogalhos


Não assisti à cerimónia da tomada de posse do novo governo. Estava a trabalhar (alguém tem de trabalhar neste país!). Partindo do princípio que o mesmo terá acontecido a muitos outros portugueses, aqui deixo, na íntegra, o discurso que o Presidente da República fez na referida cerimónia.  

"Portugueses, acabei de dar posse àquele que ficará, certamente, conhecido como o governo mais curto da história da democracia portuguesa. Fi-lo na firme convicção de estar a servir os mais altos desígnios do superior interesse nacional. Bem vistas as coisas, também não me restava outra alternativa. A suposta aliança de esquerda, cujo acordo li, por mais de uma vez, estar fechado, ainda não fez prova, inequívoca, de vida. Continuo à espera que me sejam apresentados os seus termos, mesmo sendo céptico relativamente ao resultado da soma de alhos com bogalhos. Contudo, seguindo os conselhos do Papa Francisco, que teve a amabilidade de me receber na minha recente viagem a Itália, vou esperar e, sobretudo, manter a mente aberta a essa possível solução. Em relação ao governo agora empossado, confesso, fiquei um pouco desiludido com a sua composição. Durante dias alimentei a expectativa de a sua composição ser outra, formado por pessoas de inegável peso político, abertas ao diálogo e a consensos alargados. Aparentemente, tais pessoas não existem, ou, existindo, recusaram os convites. Assumindo como mais provável a segunda hipótese, compreendo que, não podendo marcar férias nesta altura do ano, não se despeçam para daqui a poucos dias estarem a bater à porta dos Centros de Emprego a requerer subsídio de desemprego! Voltando à questão da composição do governo, sendo formado, praticamente, pelas mesmas pessoas, não me parece especialmente vocacionado para o diálogo, tanto mais que, durante os últimos anos, habituou-se a fazer, apenas, o que muito bem lhe apetecia sem dar cavaco às outras forças partidárias com assento parlamentar. Por último, cheguei a ponderar marcar a tomada de posse para o dia dos defuntos, tão breve é a esperança de vida deste executivo, mas achei que o ar de velório da cerimónia de tomada de posse já seria mais do que suficiente".


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