Em declarações ao Diário Económico, João Araújo, advogado de José Sócrates, confirmou que o juiz Carlos Alexandre invocou os motivos fuga, continuação da actividade criminosa e perigo de destruição de provas para decretar a medida de coacção prisão preventiva para o ex-primeiro-ministro. Quanto mais não seja, pelo menos o primeiro motivo invocado, é um disparate completo. Invocar perigo de fuga para alguém que sabendo que iria ser detido mal desembarcasse do avião em território nacional, e mesmo assim embarcou num voo destinado a Lisboa, é um absurdo. Se Sócrates quisesse fugir, embarcaria para destinos seguros, nunca para Lisboa. Por outro lado, Carlos Alexandre ao declarar o processo como sendo de especial complexidade (o que permite alargar todos os prazos, nomeadamente o de prisão preventiva) estará a deixar subentender que afinal as provas e os indícios reunidos até agora não serão tão concludentes quanto isso. O que seria realmente surpreendente. Sócrates, não gozando de nenhum privilégio especial relativamente à lei, também não é um cidadão como qualquer outro. A medida prisão preventiva só faz sentido caso a matéria já apurada seja de extrema gravidade e de uma solidez à prova de bala. Nesta perspectiva não faz sentido declarar o processo como sendo de especial complexidade. À data da detenção, o que haveria de se apurar já estaria tudo (ou praticamente tudo) apurado. Ora, isto é exactamente o contrário do que o que se perspectiva para o futuro de José Sócrates. Resumindo, mesmo não sendo (nem nunca ter sido) admirador de Sócrates, parece-me que toda a encenação à volta deste processo tem mais a ver com motivos políticos do que com a justiça propriamente dita.
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