sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O general sem medo


O desfasamento entre o previsto e o executado no âmbito do programa da troika para Portugal é gritante. Até um cego, realmente cego, o consegue constatar. Numa intervenção proferida na Comissão do Emprego e Assuntos Sociais, no Parlamento Europeu, em Bruxelas, no quadro do programa da troika aplicado em Portugal, Silva Peneda afirmou que “o programa nasceu imbuído de erros que têm muito a ver com o desconhecimento da realidade da economia portuguesa”. Para começar, “uma inadequada caracterização da crise” por parte dos credores internacionais, que subestimaram os “profundos desequilíbrios estruturais” num país cuja economia assenta em pequenas e médias empresas “muito fortemente descapitalizadas”. Um segundo aspecto, a troika “não teve em devida conta os elevados níveis de endividamento das empresas e das famílias”. A negligência perante o peso da procura interna e o forte impacto negativo da sua redução sobre o crescimento e o emprego foi outro erro apontado por Silva Peneda, que criticou igualmente a implementação de uma “reforma do Estado confinada à lógica da redução mais ou menos indiscriminada da despesa”, focada nos cortes salariais dos funcionários públicos e na redução das reformas. Por último, “a escassez de tempo para a execução do programa”. Em síntese, segundo Silva Peneda, o Governo e a troika optaram pela aplicação, num curto período de tempo, “de um conjunto de medidas executadas de forma bruta e abrupta que se revelaram pouco eficazes, porque não asseguraram o mínimo de estabilidade e de coerência entre as diferentes políticas”.

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